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domingo, novembro 16, 2003

11'09''01 - September 11 


Um conjunto de "perspectivas" sobre o 11 de Setembro de 2001 que merece ser visto, apesar da fraca qualidade geral das curtas-metragens que o compõem.
Uma a uma, são elas:

Irão
por Samira Makhmalbaf

Cast:
Maryam Karimi

A usual inocência das crianças, amplificada pelo contexto em que decorre a acção (um campo de refugiados afegãos no Irão), é a nota dominante. O argumento é interessante, a escolha é pertinente - o Afeganistão seria a primeira vítima da "guerra ao terror" lançada por Washington - mas a realização tem muitas limitações e, na falta de conhecimentos que me permitam avaliar a legendagem, resta pensar que a "professora" não estava, realmente, a dizer nada do que se lia no écran...
Um 5 em 10.

França
por Claude Lelouch

Cast:
Emmanuelle Laborit
Jérôme Horry

Um argumento quase irreal e improvável para narrar um facto quase irreal e improvável. Se o facto aconteceu, porque não poderia ter acontecido esta história?
Tirando este paralelo subtil, nada mais. Fraquinho.
Um 3 em 10.

Egipto
por Youssef Chahine

Cast:
Nour El-Sherif
Ahmed Seif Eldine

Protagonizado pelo próprio realizador, este episódio é de uma mediocridade confrangedora. Tido como o mais polémico dos 11, por ser considerado antiamericano, fica completamente aquém da expectativa. Nota zero.
Um redondo 0 em 10.

Bósnia-Herzegovina
por Danis Tanovic

Cast:
Dzana Pinjo
Aleksandar Seksan
Tatjana Sojic

Que teve a mais Nova Iorque que Srebrenica?
Como se mede a dor? Como se avalia uma vida? E mil vidas? E dez mil? O que é um genocídio? O que é mais notícia? Quando se esquece? Porque se esquece? Vale a pena gritar silenciosamente? Quantos crimes piores e menores ocorreram no mundo em 2001? E em 1995? Quem vamos bombardear a seguir? E porquê?
A memória como uma mariposa...
Um 6 em 10.

Burkina-Faso
por Idrissa Ouedraogo

Cast:
Lionel Zizréel Guire
René Aimé Bassinga
Lionel Gaël Folikoue
Rodrigue André Idani
Alex Martial Traoré


Um episódio de um humor negro mordaz, não apenas por usar Ben Laden como personagem, mas sobretudo por retratar África de forma directa e sem máscaras. Uma vez mais, são as crianças que contam a história. É sempre uma boa forma de contar um conto...
Um 5 em 10

Reino Unido
por Ken Loach

Cast:
Vladimir Vega

A melhor de todas as curtas que compõem este filme.
Fazendo um paralelo digno entre o 11 de Setembro de 2001 e o 11 de Setembro de 1973, que foquei n'A Sombra bem antes do "escândalo" ter rebentado nos jornais e na Blogosfera lusa, toca nos pontos chave do porquê de tal comparação de uma forma simples e plena de dignidade, sem ser primária ou parcial.
A forma como o exilado chileno termina a carta aos norte-americanos, afirmando que se irá recordar do 11 de Setembro "deles" em 2002 e pedindo-lhes que, nessa data, eles se recordem do "seu" 11 de Setembro, diz tudo.
Muito simples, bem executado e completo.
Um 8 em 10.

Israel
por Amos Gitai

Cast:
Keren Mor
Liron Levo
Tomer Russo


Ou "como arruinar uma excelente ideia".
Falta de meios? Veja-se a curta de Ken Loach.
De resto, falta de tudo. Há mesmo muito tempo que não via algo tão mal feito. Os minutos arrastavam-se... Os "actores" eram inenarráveis... A realização não existia... Foi tão mau que chegou a ser repulsivo. No final, um suspiro de alívio e um agradecimento aos céus. Que suplício!
Um -10 (menos dez) em 10. Horroroso.

Índia
por Mira Nair

Cast:
Tanvi Azmi
Kapil Bawa
Taleb Adlah


Uma história que merecia uma longa metragem.
Um tributo a todos os heróis que deram a vida tentando salvar completos desconhecidos no World Trade Center, a 11 de Setembro de 2001.
Um 7 em 10.

EUA
por Sean Penn

Cast:
Ernest Borgnine

A ilusão, a realidade, as sombras e a luz que ocultam.
Uma excelente ideia que morre pela fraca qualidade... do espectador (norte-americano e não só...). A percepção da realidade (ainda parte da ilusão) - o renascer das flores - arruina o episódio, até aí impecável. O efeito que teria um Ernest Borgnine tirado de Beckett radiante de alegria pelo ressuscitar das flores com um vaso de flores mirradas nas mãos, apercebendo-se do vazio que enche a camisa de noite da mulher morta, seria espantoso. Assim, como foi, estragou tudo.
Ou quase, pois o "desmoronar" da sombra da segunda torre, como a confirmação brutal do fim da ilusão, está muito bem apanhada.
Um 4 em 10.

Japão
Por Shohei Imamura

Cast:
Akira Emoto
Mitsuko Baisho
Tetsuro Tamba
Ken Ogata


Curiosamente, uma narrativa que não tem nada a ver com o 11 de Setembro de 2001, em termos temporais; passa-se entre o bombardeamento de Hiroshima e o de Nagasaki. O efeito da guerra sobre um só indivíduo, que opta por se "transformar" em cobra a permanecer um homem, depois de testemunhar do que é capaz o ser-humano, e a conclusão do segmento, "Não existem guerras santas", são as linhas mestras deste episódio, onde se mostram ainda algumas das nossas "melhores" características...
Confesso que foi o que mais me decepcionou, vindo do Japão, pois sou fanático por cinema japonês. Shohei Imamura escolheu um bom argumento, mas não chegou para ele. Curioso, apesar de tudo.
Um 3 em 10.


Curiosidade:
11'09''01 significa onze minutos, nove segundos, uma imagem.
Um título poderoso, estragado pela inclusão de "September 11" sem menção do ano 2001, sobretudo quando tantos dos episódios mencionam expressamente "outros 11 de Setembro" (de Santiago do Chile a Hiroshima, de Srebrenica a um dia vulgar em Jerusalém...). Uma pena...

Merece ser visto, mas com alguma paciência, dada a fraca qualidade de alguns episódios e o catastrófico segmento israelita...

De notar que fui ver este filme na sessão nobre do dia de estreia e estavam umas dez pessoas na sala, uma das mais pequenas do AMC, já contando comigo e com a Lina... Ao menos ninguém estava a comer pipocas. E ninguém saiu a meio. :)

incremento:
Não tenho nada contra as pipocas em filmes "para" pipocas, mas existem filmes que, mesmo sozinho e em casa, não se vêem a comer...

AMC Gaia - 14Nov2003 22:10 (sala 08) 4,80 € (me & Lina)

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