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terça-feira, fevereiro 14, 2006

Darwin's Nightmare 







de Hubert Sauper

Site oficial austríaco: "Darwin's Nightmare" (Coop99 filmproduktion) inglês/alemão
Site oficial francês: "Le Cauchemar de Darwin" (1001 productions) francês/inglês

Cast:
Documentário

!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este documentário, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.


Depois de "The constant Gardener" (ver abaixo), estes dias foram cheios de África.
Se o filme de Meireles era sobre uma ficção (bem real) de John le Carré, este documentário de Hubert Sauper é uma realidade brutal (oxalá fosse ficção).

A forma como o mundo desenvolvido se relaciona com África está condensada neste canto do Continente Negro, o outrora fervilhante de vida lago Victoria, onde foi introduzida nos anos 60 do século XX a perca do Nilo, um peixe voraz que liquidaria todas as outras espécies existentes no lago e que, em breve, se extinguirá a si mesmo, pois que se tornou canibal por necessidade.
Como o comércio dos filetes de perca, único meio de vida em torno do lago Victoria, além da prostituição, desregulou, perverteu e destruiu a sociedade local, é mostrado por Sauper de forma crua e dura. Está tudo neste documentário.

O relacionamento da ONU e da UE com a Tanzania e o modo como os governantes tanzanianos encaram o problema (para eles inexistente); o uso da ponte aérea de transporte das percas para a Europa como meio ilegal de introdução de armas em África; a degeneração das populações locais num misto de zombies e escravos, sem outra esperança de subir na vida que a de uma próxima guerra, que abra o recrutamento para o exército, onde se ganha mais alguma coisa... Para mim, foi mesmo o ilustrar de factos que conhecia ou me pereciam prováveis, mas no que toca à especificidade da situação, foi um choque.

Como salienta o site francês da 1001 productions, a perca da Tanzania poderia ser o diamante da Serra Leoa, a banana das Honduras ou, no caso de Angola, da Nigéria e do Iraque o... petróleo.
É assim que suportamos o nosso modo de vida.
Este é um dos documentários que deveriam ser obrigatórios nas escolas de todo o mundo.


A tirada que mais apreciei:
Jornalista tanzaniano:
"Querem ajudar? Deixem de enviar armas."

A cena tragicómica:
Um tanzaniano no meio dos restos das percas e do lixo vestido com uma t-shirt em que estava estampado um esqueleto (tórax e pélvis). Os europeus que enviam roupa para África têm um estranho sentido de humor negro. (Sim, também eu...)

O remorso:
(um piloto russo de um dos aviões de transporte - transcrito de memória)
"Uma vez, transportamos armas para cá e, no regresso, levamos uvas para a Europa. As crianças africanas tiveram armas para o Natal; as crianças europeias tiveram uvas para o Natal... É a minha pequena história."

NNNNN em NNNNN


Cine-Estúdio do Campo Alegre - 13Fev2006 22:00 3,50 €
(eu, Lina, Sofia e Cerveira)

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The Constant Gardener 







de Fernando Meireles

Site Oficial: "The constant gardener" (Universal US)

Cast:
Ralph Fiennes Justin Quayle
Rachel Weisz Tessa Quayle
Hubert Koundé Arnold Bluhm
Danny Huston Sandy Woodrow
Daniele Harford Miriam
Damaris Itenyo Agweyu Journo's Wife
Bernard Otieno Oduor Journo
Bill Nighy Sir Bernard Pellegrin
Keith Pearson Porter Coleridge
John Sibi-Okumu Dr. Joshua Ngaba
Donald Sumpter Tim Donohue
Archie Panjabi Ghita Pearson
Nick Reding Crick
Gerard McSorley Sir Kenneth Curtiss

!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.


Fernando Meireles não é surpreendente na forma como escolhe filmar o livro de John le Carré. Apenas quem não viu "Cidade de Deus" se surpreenderia com a qualidade realista desta peça, digna de um grande realizador, mas não perfeita. Foi interessante, porém, ver como Fernando Meireles age quando tem "nas mãos" actores como Ralph Fiennes, Rachel Weisz ou Bill Nighy, que tanto apreciei no "pequeno" telefilme "The girl in the café", de David Yates.

As semelhanças com "Cidade de Deus" não são poucas. Afinal, o que é Kibera, um dos miseráveis subúrbios de Nairobi onde decorre parte da acção, se não outra cidade de Deus...

A mistura do romance entre Justin e Tessa com a insinuação de le Carré sobre a forma como funciona a ajuda humanitária em África, as ligações entre industria farmacêutica e os governos africanos e dos países de origem, torna-se natural. Apenas o final seria dispensável; como o de Matrix, por exemplo, mas não chega para estragar o que foi um dos melhores filmes do ano.
Insinuação despropositada? Temo bem que não. Temo bem que a realidade seja até bem pior. Depois de ver este filme, vi "Darwin's Nightmare" (ver entrada seguinte, no CpI), e se já sabia como funcionam (ou não) as coisas em África, mais consciente disso fiquei.

A tirada que mais apreciei:
Tessa: (confrontando um governante queniano responsável pela distribuição de um medicamento que nunca chegou às clinicas)
"So we've been wondering, is that a standard cock-up, Dr. Ngaba, or were the pills converted into the limo that you arrived in?"

A cena mais ilustrativa:
Medicamentos fora de prazo e sem condições próprias para serem armazenados e aproveitados saem de um avião ao serviço da ONU e são deitados de seguida em bidões onde são queimados. Os laboratórios médicos oferecem medicamentos que, literalmente, apodrecem em stock para obter benefícios fiscais e, claro, ficar bem na fotografia... Revoltante. E real.

NNNN em NNNNN


AMC/Arrábida - 11Fev2006 22:00 (sala 7) 5,00 €
(just me)

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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Jarhead 







de Sam Mendes

Site Oficial: "Jarhead" (Universal US)

Cast:
Jake Gyllenhaal Swoff
Peter Sarsgaard Troy
Jamie Foxx Staff Sgt. Sykes
Scott MacDonald D.I. Fitch
Chris Cooper Lt. Col. Kazinski
Damion Poitier Poitier
Kevin Foster Branded Marine
Riad Galayini Nurse
Craig Coyne Young Mr. Swofford
Katherine Randolph Young Mrs. Swofford
Rini Bell Swoff's Sister
Dendrie Taylor Mrs. Swofford
James Morrison Mr. Swofford
Arman Zajic Boy Swoff
Brianne Davis Kristina
Lo Ming Bored Gunny (como Ming Lo)

!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.


Os três filmes que vi até agora de Sam Mendes (American Beauty, Road to Perdition e Jarhead) deixaram uma impressão duradoura. A expectativa que tinha para este Jarhead, porém, não vinha daí, antes dos inúmeros comentários e críticas - do muito mau ao excelente, do vazio ao "pena ser de esquerda". Acompanhei a Guerra do Golfo em directo, via CNN quando podia, tentando evitar os inenarráveis Artur Albarran e José Rodrigues dos Santos, também quando podia. Tirando alguns filmes de género ou de pura ficção (como o excelente The Manchurian Candidate), estava à espera de um novo Coppola ou Kubrik, mas sobre este conflito. Saíu-me Sam Mendes. E ainda bem.

Não é um Apocalypse Now nem um Full Metal Jacket (embora se discuta na Net as semelhanças de estrutura entre ambos, talvez devidas à influência da obra-prima de Kubrik no autor do livro, o próprio Anthony Swofford), mas tocou-me de outro modo, por ser uma experiência própria, a história de Swofford, e tão honesta e descomprometidamente contada/filmada.

Quanto a ser de esquerda... Não me pareceu; a não ser que se considerem de esquerda todos os filmes que demonstram a insensatez e insanidade da Guerra. É uma história simples, magistralmente realizada em filme. Tornar-se-á um clássico, por isso mesmo.

A tirada que mais apreciei:
Swoff: "That's Vietnam music. Can't we get our own music?!" (ao ouvir The Doors no deserto)

A cena marada:
FIELD FUCK!!

A cena mais irreal/apocalíptica:
Swofford aproximando-se de um cavalo árabe encharcado em petróleo, com os poços a arder ao fundo. A imagem do infeliz animal em chamas a galopar na noite (o que não pertence ao filme nem, tanto quanto sei, ao livro) ficou-me na cabeça...

NNNN em NNNNN

incremento:
Enquanto via Jarhead, a Lina, a Brígida e a Cristina viram Memoirs of a geisha, de Rob Marshall.


AMC/Arrábida - 02Fev2006 21:35 (sala 19) 5,00 €
(just me)

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