terça-feira, fevereiro 14, 2006
Darwin's Nightmare
de Hubert Sauper
Site oficial austríaco: "Darwin's Nightmare" (Coop99 filmproduktion) inglês/alemão
Site oficial francês: "Le Cauchemar de Darwin" (1001 productions) francês/inglês
Cast:
Documentário
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este documentário, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
Depois de "The constant Gardener" (ver abaixo), estes dias foram cheios de África.
Se o filme de Meireles era sobre uma ficção (bem real) de John le Carré, este documentário de Hubert Sauper é uma realidade brutal (oxalá fosse ficção).
A forma como o mundo desenvolvido se relaciona com África está condensada neste canto do Continente Negro, o outrora fervilhante de vida lago Victoria, onde foi introduzida nos anos 60 do século XX a perca do Nilo, um peixe voraz que liquidaria todas as outras espécies existentes no lago e que, em breve, se extinguirá a si mesmo, pois que se tornou canibal por necessidade.
Como o comércio dos filetes de perca, único meio de vida em torno do lago Victoria, além da prostituição, desregulou, perverteu e destruiu a sociedade local, é mostrado por Sauper de forma crua e dura. Está tudo neste documentário.
O relacionamento da ONU e da UE com a Tanzania e o modo como os governantes tanzanianos encaram o problema (para eles inexistente); o uso da ponte aérea de transporte das percas para a Europa como meio ilegal de introdução de armas em África; a degeneração das populações locais num misto de zombies e escravos, sem outra esperança de subir na vida que a de uma próxima guerra, que abra o recrutamento para o exército, onde se ganha mais alguma coisa... Para mim, foi mesmo o ilustrar de factos que conhecia ou me pereciam prováveis, mas no que toca à especificidade da situação, foi um choque.
Como salienta o site francês da 1001 productions, a perca da Tanzania poderia ser o diamante da Serra Leoa, a banana das Honduras ou, no caso de Angola, da Nigéria e do Iraque o... petróleo.
É assim que suportamos o nosso modo de vida.
Este é um dos documentários que deveriam ser obrigatórios nas escolas de todo o mundo.
A tirada que mais apreciei:
Jornalista tanzaniano:
"Querem ajudar? Deixem de enviar armas."
A cena tragicómica:
Um tanzaniano no meio dos restos das percas e do lixo vestido com uma t-shirt em que estava estampado um esqueleto (tórax e pélvis). Os europeus que enviam roupa para África têm um estranho sentido de humor negro. (Sim, também eu...)
O remorso:
(um piloto russo de um dos aviões de transporte - transcrito de memória)
"Uma vez, transportamos armas para cá e, no regresso, levamos uvas para a Europa. As crianças africanas tiveram armas para o Natal; as crianças europeias tiveram uvas para o Natal... É a minha pequena história."
NNNNN em NNNNN
Cine-Estúdio do Campo Alegre - 13Fev2006 22:00 3,50 €
(eu, Lina, Sofia e Cerveira)
The Constant Gardener
de Fernando Meireles
Site Oficial: "The constant gardener" (Universal US)
Cast:
Ralph Fiennes Justin Quayle
Rachel Weisz Tessa Quayle
Hubert Koundé Arnold Bluhm
Danny Huston Sandy Woodrow
Daniele Harford Miriam
Damaris Itenyo Agweyu Journo's Wife
Bernard Otieno Oduor Journo
Bill Nighy Sir Bernard Pellegrin
Keith Pearson Porter Coleridge
John Sibi-Okumu Dr. Joshua Ngaba
Donald Sumpter Tim Donohue
Archie Panjabi Ghita Pearson
Nick Reding Crick
Gerard McSorley Sir Kenneth Curtiss
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
Fernando Meireles não é surpreendente na forma como escolhe filmar o livro de John le Carré. Apenas quem não viu "Cidade de Deus" se surpreenderia com a qualidade realista desta peça, digna de um grande realizador, mas não perfeita. Foi interessante, porém, ver como Fernando Meireles age quando tem "nas mãos" actores como Ralph Fiennes, Rachel Weisz ou Bill Nighy, que tanto apreciei no "pequeno" telefilme "The girl in the café", de David Yates.
As semelhanças com "Cidade de Deus" não são poucas. Afinal, o que é Kibera, um dos miseráveis subúrbios de Nairobi onde decorre parte da acção, se não outra cidade de Deus...
A mistura do romance entre Justin e Tessa com a insinuação de le Carré sobre a forma como funciona a ajuda humanitária em África, as ligações entre industria farmacêutica e os governos africanos e dos países de origem, torna-se natural. Apenas o final seria dispensável; como o de Matrix, por exemplo, mas não chega para estragar o que foi um dos melhores filmes do ano.
Insinuação despropositada? Temo bem que não. Temo bem que a realidade seja até bem pior. Depois de ver este filme, vi "Darwin's Nightmare" (ver entrada seguinte, no CpI), e se já sabia como funcionam (ou não) as coisas em África, mais consciente disso fiquei.
A tirada que mais apreciei:
Tessa: (confrontando um governante queniano responsável pela distribuição de um medicamento que nunca chegou às clinicas)
"So we've been wondering, is that a standard cock-up, Dr. Ngaba, or were the pills converted into the limo that you arrived in?"
A cena mais ilustrativa:
Medicamentos fora de prazo e sem condições próprias para serem armazenados e aproveitados saem de um avião ao serviço da ONU e são deitados de seguida em bidões onde são queimados. Os laboratórios médicos oferecem medicamentos que, literalmente, apodrecem em stock para obter benefícios fiscais e, claro, ficar bem na fotografia... Revoltante. E real.
NNNN em NNNNN
AMC/Arrábida - 11Fev2006 22:00 (sala 7) 5,00 €
(just me)
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
Jarhead
de Sam Mendes
Site Oficial: "Jarhead" (Universal US)
Cast:
Jake Gyllenhaal Swoff
Peter Sarsgaard Troy
Jamie Foxx Staff Sgt. Sykes
Scott MacDonald D.I. Fitch
Chris Cooper Lt. Col. Kazinski
Damion Poitier Poitier
Kevin Foster Branded Marine
Riad Galayini Nurse
Craig Coyne Young Mr. Swofford
Katherine Randolph Young Mrs. Swofford
Rini Bell Swoff's Sister
Dendrie Taylor Mrs. Swofford
James Morrison Mr. Swofford
Arman Zajic Boy Swoff
Brianne Davis Kristina
Lo Ming Bored Gunny (como Ming Lo)
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
Os três filmes que vi até agora de Sam Mendes (American Beauty, Road to Perdition e Jarhead) deixaram uma impressão duradoura. A expectativa que tinha para este Jarhead, porém, não vinha daí, antes dos inúmeros comentários e críticas - do muito mau ao excelente, do vazio ao "pena ser de esquerda". Acompanhei a Guerra do Golfo em directo, via CNN quando podia, tentando evitar os inenarráveis Artur Albarran e José Rodrigues dos Santos, também quando podia. Tirando alguns filmes de género ou de pura ficção (como o excelente The Manchurian Candidate), estava à espera de um novo Coppola ou Kubrik, mas sobre este conflito. Saíu-me Sam Mendes. E ainda bem.
Não é um Apocalypse Now nem um Full Metal Jacket (embora se discuta na Net as semelhanças de estrutura entre ambos, talvez devidas à influência da obra-prima de Kubrik no autor do livro, o próprio Anthony Swofford), mas tocou-me de outro modo, por ser uma experiência própria, a história de Swofford, e tão honesta e descomprometidamente contada/filmada.
Quanto a ser de esquerda... Não me pareceu; a não ser que se considerem de esquerda todos os filmes que demonstram a insensatez e insanidade da Guerra. É uma história simples, magistralmente realizada em filme. Tornar-se-á um clássico, por isso mesmo.
A tirada que mais apreciei:
Swoff: "That's Vietnam music. Can't we get our own music?!" (ao ouvir The Doors no deserto)
A cena marada:
FIELD FUCK!!
A cena mais irreal/apocalíptica:
Swofford aproximando-se de um cavalo árabe encharcado em petróleo, com os poços a arder ao fundo. A imagem do infeliz animal em chamas a galopar na noite (o que não pertence ao filme nem, tanto quanto sei, ao livro) ficou-me na cabeça...
NNNN em NNNNN
incremento:
Enquanto via Jarhead, a Lina, a Brígida e a Cristina viram Memoirs of a geisha, de Rob Marshall.
AMC/Arrábida - 02Fev2006 21:35 (sala 19) 5,00 €
(just me)
sexta-feira, janeiro 13, 2006
Corpse Bride
de Tim Burton e Mike Johnson
Site Oficial: "Corpse Bride" (Warner US)
Cast:
Johnny Depp Victor Van Dort (voz)
Helena Bonham Carter Corpse Bride (voz)
Emily Watson Victoria Everglot (voz)
Tracey Ullman Nell Van Dort/Hildegarde (voz)
Paul Whitehouse William Van Dort/Mayhew/Paul The Head Waiter (voz)
Joanna Lumley Maudeline Everglot (voz)
Albert Finney Finnis Everglot (voz)
Richard E. Grant Barkis Bittern (voz)
Christopher Lee Pastor Galswells (voz)
Michael Gough Elder Gutknecht (voz)
Jane Horrocks Black Widow Spider/Mrs. Plum (voz)
Enn Reitel Maggot/Town Crier (voz)
Deep Roy General Bonesapart (voz)
Danny Elfman Bonejangles (voz)
Stephen Ballantyne Emil (voz)
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
Sou fan dos filmes com a assinatura de Tim Burton. Sou fan do Oyster Boy! Sou fan do Penguin Boy! Sou fan do Danny Elfman (a tal ponto que deixei que estragasse o meu CD do Sleepy Hollow, quando o autografou no Rivoli, no Porto). Mas...
Quer-me parecer que este Corpse Bride foi feito a correr.
Gostei, mas havia tanto mais a explorar e as piadas eram tão óbvias (a do esqueleto que se desfaz e pega na deixa "pick up the pieces" é o melhor exemplo...).
A ver, sem dúvida, mas o menos bom de Tim e Danny, quanto a mim (embora Danny Elfman estivésse impec como Bonejangles, num Cameo feito à medida).
A tirada que mais apreciei, por me recordar as cacofonias:
Barkis Bittern: "Serendipity brought us together!"
NNN em NNNNN
incremento:
O Cinema para Indígenas regressou!
Mas confesso que não vamos tanto ao cinema...
Fica a promessa de tentar actualizar este cineblog com os filmes que foram vistos durante a pausa forçada do CpI e d' A Sombra.
AMC/Arrábida - 12Jan2006 21:35 (sala 14) 5,00 €
(just me and the mrs.)
quinta-feira, dezembro 18, 2003
Zatoichi
de Takeshi Kitano
Site Oficial: "Zatoichi" (japonês) (*)
Site Oficial em francês: "Zatoichi"
Cast:
Takeshi Kitano Zatoichi (como Beat Takeshi)
Tadanobu Asano Gennosuke Hattori
Yui Natsukawa O-Shino, esposa de Gennosuke Hattori
Michiyo Ookusu O-Ume
Takahito Iguchi Shinkichi (como Gadarukanaru Taka)
Yûko Daike O-Kinu
Daigorô Tachibana O-Sei/Seitarou
Ittoku Kishibe Ginzou
Saburo Ishikura Oogiya
Akira Emoto Nomiya no Oyaji
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
Bom...
Para já, se ainda não tinham reparado, sou fanático por cinema japonês. De facto, sou amante da cultura nipónica e, em especial, de tudo o que diga respeito ao Japão dos séculos XV ao XVIII, para além de "mangafan" e "animefan". Desde Akira a Ghost in the Shell, passando por Perfect Blue, até às películas que o Mário e a Beatriz vão escolhendo a cada ano para o Fantasporto (onde vi os fabulosos Audition, The Isle ou o fantástico A Snake of June - o melhor do Fantas 2003, para mim - e o incrível Ichi, the Killer!), nunca esquecendo o glorioso mestre: Akira Kurosawa.
E Takeshi Kitano... Claro.
Kidzu ritan... Kikujiro... Hana-bi... Brother... Dolls (que falhei...). You name it.
E agora, Zatoichi.
Zatoichi encheu-me as medidas; pelo tema, o samurai cego, massagista e viciado no jogo, que percorre o Japão dos Tokugawa (o período Edo de Lone Wolf and Cub, aliás uma referência paralela em tudo o que diga respeito a Zatoichi, e cujo conhecimento prévio me fez apreciar ainda mais este filme); pela estética que mistura elementos clássicos com referências culturais do Japão moderno; pelo rigor histórico do grande filme de época, a roçar Kurosawa, mas Kitano Style.
O primeiro filme sobre Zatoichi tem mais um ano do que eu; foi realizado em 1962 (!), tendo sido feitos pelo menos 27 filmes desde então, incluindo este, de Kitano, treze dos quais disponíveis em DVD (quase todos em VHS). A esta lista, juntem-se mais de 100 episódios de uma série televisiva (!!). Não, Kitano não inventou Zatoichi, mas a sua abordagem é fenomenal.
Não sendo Zatoichi uma novidade para os conhecedores e, principalmente, para a maioria do público japonês (para o qual este filme foi feito expressamente), ele foi uma surpresa para o vulgar espectador "ocidental", sobretudo em termos de forma - o que explicará a reacção da crítica ao filme, que variou da relativa indiferença à total rejeição, conforme os conhecimentos e a capacidade de digestão de cada "crítico", essa espécie infame.
Neste filme, tudo é impecável, desde a fabulosa interpretação do próprio Takeshi Kitano (creditado como "Beat" Takeshi) à distribuição dos papéis, do rigor histórico ao uso de concisos flashbacks e twists. Pecando por não conhecer os restantes filmes de Zatoichi, arriscaria dizer, ainda assim, que este será o melhor.
Agora a parte que "não se entende" - do meu ponto de vista.
Os japoneses vivem obcecados com o seu passado glorioso, personificado no glorioso Samurai, tanto como pela moderna cultura "ocidental", representada sobretudo pela vertente norte-americana, que invadiu o Japão do pós-guerra como nunca antes outra o fizera desde que o império se isolou do exterior. Em particular, é a música norte-americana que fascina os japoneses. O fenómeno Karaoke chega a atingir proporções doentias, mas não só. Também o glamour do Music-Hall, o tap dancing, Fred and Ginger... Desde a primeira cena em que surgem ritmos contemporâneos (quando Zatoichi passa perto de um campo onde camponeses escavam a terra ao ritmo das batidas da música) que vi onde íamos parar.
Mas o clímax desta lógica não foi o apoteótico final de Music-Hall, antes sendo o aparecimento do tresloucado "filho da vizinha", meio ashigaru (1), meio samurai, de yari (2) em punho, aos gritos, qual D. Quixote japonês em busca dos seus gigantes. A resposta a Zatoichi, quando este indaga quem é o "cromo", simboliza muito do japonês moderno: "É o maluco do filho da vizinha; tem a mania que é samurai..." diz-lhe O-Ume.
Nem de propósito, a National Geographic deste mês tem uma reportagem sobre Samurai e como os japoneses encaram este período da sua história. Numa fotografia, vemos um pacato pai de família vestido a rigor, cruzando lâminas com um qualquer agente turístico, também fantasiado de samurai; noutra, um homem em traje quase completo de samurai, alugado, fazendo compras num supermercado... O ridículo das imagens não tem descrição possível em palavras. O que mais existe no Japão de hoje são "malucos que têm a mania que são samurai"...
E escolas de sapateado.
À primeira vista, dir-se-ia que os figurantes bailarinos que fazem as coreografias de dança no filme são uma sucursal nipónica dos Stomp. Nada disso. Trata-se do grupo de sapateado The Stripes, muito popular no Japão.
Existem duas leituras possíveis para o filme de Kitano - do meu ponto de vista, naturalmente. Uma é o diminuir do peso da tradição no Japão de hoje, quase a ridicularizando, misturando o Bushido com o sapateado e mostrando a miséria em que os mais nobres samurai viviam, de facto, no ocaso da sua existência. Outra é o ridicularizar dos valores actuais da sociedade japonesa, mostrando como adulteram os do passado, com os quais resulta ridícula qualquer justaposição.
A cena final, em que personagens de época dançam fazendo uma coreografia tipicamente norte-americana - a do sapateado em grupo, característica das Folies de Ziegfeld e do musical Hollywoodesco dos anos 50, é o paradigma desta leitura. Veja-se a expressão de O-Kinu, a geisha, enquanto dança, comparada com a do seu irmão travesti, O-Sei.
Na realidade, é para o japonês moderno, preso a estas duas correntes, que Kitano fala pelos lábios de Zatoichi, ao sentenciar, no final: "Mesmo de olhos abertos, nada consigo ver..."
A não perder em absoluto.
Um dos grandes momentos cinematográficos de 2003, embora quase um exclusivo para os amantes da cultura do país do sol nascente.
***** em *****!!
incremento:
Curiosamente, vimos o filme com uma amiga japonesa, a Fumiko, que se encontra a fazer um workshop de cerâmica na ARCO, em Lisboa, e que estava no Porto para uma visita à Sofia Beça, ceramista e esposa do arquitecto Manuel da Cerveira Pinto (sim, o MCP, um dos nossos bloggers-fantasma n'A Sombra!).
Como esperava, ela adorou o filme. No fim, perguntei-lhe se conhecia Lone Wolf and Cub. Ela fala muito pouco português e um inglês fraquinho, mas quando mencionei os nomes Ogami Itto e Daigoro ela sorriu e exclamou: "Kozure Okami! Yes, yes! Very good!" Kozure Okami é o título japonês de Lone Wolf and Cub.
incremento2:
A banda sonora de Zatoichi é de Keiichi Suzuki e é muito difícil de arranjar, mesmo através da internet. O único site que não é japonês onde a encontrei foi este.
Está ainda disponível para encomenda na FNAC, através do circuito de importação, e custa cerca de 40,00 euros; o mesmo que através da internet. Só para "maluquinhos", portanto. :)
incremento3:
Já há quem queira comparar o incomparável e se pergunte qual dos filmes é o melhor: se Zatoichi ou Kill Bill - vol. 1... Tenham juízo.
Medeia/Cidade do Porto - 13Dez2003 21:30 (sala 3) 4,50 €
(me, Lina, Sofia, Rute e Fumiko)
(*) O site japonês vale pelo visual e pelo som! A ver.
(1) ashigaru - soldados camponeses
(2) yari - lança japonesa, arma usual dos ashigaru, também usada pelos samurai (com eficácia muito superior, naturalmente)
(1) comments
Site Oficial: "Zatoichi" (japonês) (*)
Site Oficial em francês: "Zatoichi"
Cast:
Takeshi Kitano Zatoichi (como Beat Takeshi)
Tadanobu Asano Gennosuke Hattori
Yui Natsukawa O-Shino, esposa de Gennosuke Hattori
Michiyo Ookusu O-Ume
Takahito Iguchi Shinkichi (como Gadarukanaru Taka)
Yûko Daike O-Kinu
Daigorô Tachibana O-Sei/Seitarou
Ittoku Kishibe Ginzou
Saburo Ishikura Oogiya
Akira Emoto Nomiya no Oyaji
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
Bom...
Para já, se ainda não tinham reparado, sou fanático por cinema japonês. De facto, sou amante da cultura nipónica e, em especial, de tudo o que diga respeito ao Japão dos séculos XV ao XVIII, para além de "mangafan" e "animefan". Desde Akira a Ghost in the Shell, passando por Perfect Blue, até às películas que o Mário e a Beatriz vão escolhendo a cada ano para o Fantasporto (onde vi os fabulosos Audition, The Isle ou o fantástico A Snake of June - o melhor do Fantas 2003, para mim - e o incrível Ichi, the Killer!), nunca esquecendo o glorioso mestre: Akira Kurosawa.
E Takeshi Kitano... Claro.
Kidzu ritan... Kikujiro... Hana-bi... Brother... Dolls (que falhei...). You name it.
E agora, Zatoichi.
Zatoichi encheu-me as medidas; pelo tema, o samurai cego, massagista e viciado no jogo, que percorre o Japão dos Tokugawa (o período Edo de Lone Wolf and Cub, aliás uma referência paralela em tudo o que diga respeito a Zatoichi, e cujo conhecimento prévio me fez apreciar ainda mais este filme); pela estética que mistura elementos clássicos com referências culturais do Japão moderno; pelo rigor histórico do grande filme de época, a roçar Kurosawa, mas Kitano Style.
O primeiro filme sobre Zatoichi tem mais um ano do que eu; foi realizado em 1962 (!), tendo sido feitos pelo menos 27 filmes desde então, incluindo este, de Kitano, treze dos quais disponíveis em DVD (quase todos em VHS). A esta lista, juntem-se mais de 100 episódios de uma série televisiva (!!). Não, Kitano não inventou Zatoichi, mas a sua abordagem é fenomenal.
Não sendo Zatoichi uma novidade para os conhecedores e, principalmente, para a maioria do público japonês (para o qual este filme foi feito expressamente), ele foi uma surpresa para o vulgar espectador "ocidental", sobretudo em termos de forma - o que explicará a reacção da crítica ao filme, que variou da relativa indiferença à total rejeição, conforme os conhecimentos e a capacidade de digestão de cada "crítico", essa espécie infame.
Neste filme, tudo é impecável, desde a fabulosa interpretação do próprio Takeshi Kitano (creditado como "Beat" Takeshi) à distribuição dos papéis, do rigor histórico ao uso de concisos flashbacks e twists. Pecando por não conhecer os restantes filmes de Zatoichi, arriscaria dizer, ainda assim, que este será o melhor.
Agora a parte que "não se entende" - do meu ponto de vista.
Os japoneses vivem obcecados com o seu passado glorioso, personificado no glorioso Samurai, tanto como pela moderna cultura "ocidental", representada sobretudo pela vertente norte-americana, que invadiu o Japão do pós-guerra como nunca antes outra o fizera desde que o império se isolou do exterior. Em particular, é a música norte-americana que fascina os japoneses. O fenómeno Karaoke chega a atingir proporções doentias, mas não só. Também o glamour do Music-Hall, o tap dancing, Fred and Ginger... Desde a primeira cena em que surgem ritmos contemporâneos (quando Zatoichi passa perto de um campo onde camponeses escavam a terra ao ritmo das batidas da música) que vi onde íamos parar.
Mas o clímax desta lógica não foi o apoteótico final de Music-Hall, antes sendo o aparecimento do tresloucado "filho da vizinha", meio ashigaru (1), meio samurai, de yari (2) em punho, aos gritos, qual D. Quixote japonês em busca dos seus gigantes. A resposta a Zatoichi, quando este indaga quem é o "cromo", simboliza muito do japonês moderno: "É o maluco do filho da vizinha; tem a mania que é samurai..." diz-lhe O-Ume.
Nem de propósito, a National Geographic deste mês tem uma reportagem sobre Samurai e como os japoneses encaram este período da sua história. Numa fotografia, vemos um pacato pai de família vestido a rigor, cruzando lâminas com um qualquer agente turístico, também fantasiado de samurai; noutra, um homem em traje quase completo de samurai, alugado, fazendo compras num supermercado... O ridículo das imagens não tem descrição possível em palavras. O que mais existe no Japão de hoje são "malucos que têm a mania que são samurai"...
E escolas de sapateado.
À primeira vista, dir-se-ia que os figurantes bailarinos que fazem as coreografias de dança no filme são uma sucursal nipónica dos Stomp. Nada disso. Trata-se do grupo de sapateado The Stripes, muito popular no Japão.
Existem duas leituras possíveis para o filme de Kitano - do meu ponto de vista, naturalmente. Uma é o diminuir do peso da tradição no Japão de hoje, quase a ridicularizando, misturando o Bushido com o sapateado e mostrando a miséria em que os mais nobres samurai viviam, de facto, no ocaso da sua existência. Outra é o ridicularizar dos valores actuais da sociedade japonesa, mostrando como adulteram os do passado, com os quais resulta ridícula qualquer justaposição.
A cena final, em que personagens de época dançam fazendo uma coreografia tipicamente norte-americana - a do sapateado em grupo, característica das Folies de Ziegfeld e do musical Hollywoodesco dos anos 50, é o paradigma desta leitura. Veja-se a expressão de O-Kinu, a geisha, enquanto dança, comparada com a do seu irmão travesti, O-Sei.
Na realidade, é para o japonês moderno, preso a estas duas correntes, que Kitano fala pelos lábios de Zatoichi, ao sentenciar, no final: "Mesmo de olhos abertos, nada consigo ver..."
A não perder em absoluto.
Um dos grandes momentos cinematográficos de 2003, embora quase um exclusivo para os amantes da cultura do país do sol nascente.
***** em *****!!
incremento:
Curiosamente, vimos o filme com uma amiga japonesa, a Fumiko, que se encontra a fazer um workshop de cerâmica na ARCO, em Lisboa, e que estava no Porto para uma visita à Sofia Beça, ceramista e esposa do arquitecto Manuel da Cerveira Pinto (sim, o MCP, um dos nossos bloggers-fantasma n'A Sombra!).
Como esperava, ela adorou o filme. No fim, perguntei-lhe se conhecia Lone Wolf and Cub. Ela fala muito pouco português e um inglês fraquinho, mas quando mencionei os nomes Ogami Itto e Daigoro ela sorriu e exclamou: "Kozure Okami! Yes, yes! Very good!" Kozure Okami é o título japonês de Lone Wolf and Cub.
incremento2:
A banda sonora de Zatoichi é de Keiichi Suzuki e é muito difícil de arranjar, mesmo através da internet. O único site que não é japonês onde a encontrei foi este.
Está ainda disponível para encomenda na FNAC, através do circuito de importação, e custa cerca de 40,00 euros; o mesmo que através da internet. Só para "maluquinhos", portanto. :)
incremento3:
Já há quem queira comparar o incomparável e se pergunte qual dos filmes é o melhor: se Zatoichi ou Kill Bill - vol. 1... Tenham juízo.
Medeia/Cidade do Porto - 13Dez2003 21:30 (sala 3) 4,50 €
(me, Lina, Sofia, Rute e Fumiko)
(*) O site japonês vale pelo visual e pelo som! A ver.
(1) ashigaru - soldados camponeses
(2) yari - lança japonesa, arma usual dos ashigaru, também usada pelos samurai (com eficácia muito superior, naturalmente)
Finding Nemo
de Andrew Stanton e Lee Unkrich
Site Oficial:
"Finding Nemo" (Pixar)
Outros sites a ver:
"Finding Nemo" (Disney)
"Finding Nemo" (Tiscali)
Cast:
Albert Brooks Marlin (voz)
Ellen DeGeneres Dory (voz)
Alexander Gould Nemo (voz)
Willem Dafoe Gill (voz)
Brad Garrett Bloat (voz)
Allison Janney Peach (voz)
Austin Pendleton Gurgle (voz)
Stephen Root Bubbles (voz)
Vicki Lewis Deb/Flo (voz)
Joe Ranft Jacques (voz)
Geoffrey Rush Nigel (voz)
Andrew Stanton Crush (voz)
Elizabeth Perkins Coral (voz)
Nicholas Bird Squirt (voz)
Bob Peterson Mr. Ray (voz)
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
De cada vez que uma animação deste nível estreia, eu e a Lina ficamos em transe! Adoramos cinema animado - a Lina chegou a tentar encontrar uma boa escola, ainda estávamos na Faculdade, mas no Porto só o Animatógrafo tinha algumas condições, infelizmente não adequadas ao que pretendia, apesar da simpatia de Abi Feijó, que chegou a aceitar fazer uma palestra sobre animação na nossa Faculdade, ao tempo em que faziamos parte da Associação de Estudantes... Aliás, mesmo com a criação da Casa da Animação, estamos longe de ter uma verdadeira escola de animação, no Porto (arriscaria mesmo dizer em Portugal...). Em França, onde ela nasceu e cresceu, tinha uma vasta escolha (e de qualidade), mas terminou por vir para Portugal fazer Belas Artes (não, não é filha de um diplomata e fez toda a escolaridade anterior em França), o que comprometeu esse seu sonho. Quanto a mim, que não a teria conhecido se tivesse permanecido nos Vosges, não tenho nada que me queixar!! :)
Mas o Nemo, então (estava a divagar, desculpem!).
A Pixar é a Pixar - need I say more? Foi um dos momentos altos de 2003, no que toca a cinema. Uma boa história, uma técnica irrepreensível e um cast de luxo com vozes fabulosas - na versão original, please!, qualquer dobragem, em qualquer língua, é um atentado - fazem de "Finding Nemo" a melhor animação desde "Ice Age" (que, aliás, vivia da personagem fantabulosa que era o Scrat!, não chegando aos pés deste Nemo, no conjunto). Um must absoluto em qualquer colecção de filmes de animação que se preze.
Se ainda não viram, não sabem o que perdem!
O melhor: Definitivamente, tudo!
A surpresa: O brinde da Pixar; a fabulosa curta-metragem que antecedeu o filme: Knick-Knack - linda! (ver aqui!)
O pior: Definitivamente, nada!
AMC Gaia - 08Dez2003 21:30 (sala 16) 3,00 € (me & Lina)
(0) comments
Site Oficial:
"Finding Nemo" (Pixar)
Outros sites a ver:
"Finding Nemo" (Disney)
"Finding Nemo" (Tiscali)
Cast:
Albert Brooks Marlin (voz)
Ellen DeGeneres Dory (voz)
Alexander Gould Nemo (voz)
Willem Dafoe Gill (voz)
Brad Garrett Bloat (voz)
Allison Janney Peach (voz)
Austin Pendleton Gurgle (voz)
Stephen Root Bubbles (voz)
Vicki Lewis Deb/Flo (voz)
Joe Ranft Jacques (voz)
Geoffrey Rush Nigel (voz)
Andrew Stanton Crush (voz)
Elizabeth Perkins Coral (voz)
Nicholas Bird Squirt (voz)
Bob Peterson Mr. Ray (voz)
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
De cada vez que uma animação deste nível estreia, eu e a Lina ficamos em transe! Adoramos cinema animado - a Lina chegou a tentar encontrar uma boa escola, ainda estávamos na Faculdade, mas no Porto só o Animatógrafo tinha algumas condições, infelizmente não adequadas ao que pretendia, apesar da simpatia de Abi Feijó, que chegou a aceitar fazer uma palestra sobre animação na nossa Faculdade, ao tempo em que faziamos parte da Associação de Estudantes... Aliás, mesmo com a criação da Casa da Animação, estamos longe de ter uma verdadeira escola de animação, no Porto (arriscaria mesmo dizer em Portugal...). Em França, onde ela nasceu e cresceu, tinha uma vasta escolha (e de qualidade), mas terminou por vir para Portugal fazer Belas Artes (não, não é filha de um diplomata e fez toda a escolaridade anterior em França), o que comprometeu esse seu sonho. Quanto a mim, que não a teria conhecido se tivesse permanecido nos Vosges, não tenho nada que me queixar!! :)
Mas o Nemo, então (estava a divagar, desculpem!).
A Pixar é a Pixar - need I say more? Foi um dos momentos altos de 2003, no que toca a cinema. Uma boa história, uma técnica irrepreensível e um cast de luxo com vozes fabulosas - na versão original, please!, qualquer dobragem, em qualquer língua, é um atentado - fazem de "Finding Nemo" a melhor animação desde "Ice Age" (que, aliás, vivia da personagem fantabulosa que era o Scrat!, não chegando aos pés deste Nemo, no conjunto). Um must absoluto em qualquer colecção de filmes de animação que se preze.
Se ainda não viram, não sabem o que perdem!
O melhor: Definitivamente, tudo!
A surpresa: O brinde da Pixar; a fabulosa curta-metragem que antecedeu o filme: Knick-Knack - linda! (ver aqui!)
O pior: Definitivamente, nada!
AMC Gaia - 08Dez2003 21:30 (sala 16) 3,00 € (me & Lina)
terça-feira, dezembro 16, 2003
Mystic River
de Clint Eastwood
Site Oficial: "Mystic River"
Cast:
Sean Penn Jimmy Markum
Tim Robbins Dave Boyle
Kevin Bacon Sean Devine
Laurence Fishburne Whitey Powers
Marcia Gay Harden Celeste Boyle
Laura Linney Annabeth Markum
Kevin Chapman Val Savage
Tom Guiry Brendan Harris
Emmy Rossum Katie Markum
Spencer Treat Clark Silent Ray Harris
Matty Blake State Trooper
Andrew Blesser Sibling
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
O bom velho Harry parece melhorar a cada ano que passa, como um Vintage. O rio místico foi uma agradável surpresa - desconfio sempre das críticas que louvam as virtudes de um trabalho em uníssono; fico com a pulga atrás da orelha. Por outro lado, um conjunto de críticas desfavoráveis funciona como um íman, para mim. Quantos mais dizem mal de um filme mais eu tenho de o ver! Depois posso juntar a minha voz à deles... Ou não (o que acontece com muita frequência!).
Gostei do desempenho de todo o cast de Mystic River. Foi um prazer ver a frieza matriarcal de uma Laura Linney cada vez melhor, um Laurence Fishburne fantástico como suporte de um Kevin Bacon muito bem apanhado para o papel, assim como o foi Tim "Shawshank Redemption" Robins. Apenas Sean Penn não se excedeu, mantendo-se colado ao trejeito de "Dead Man Walking", e o miúdo "de serviço", Spencer Treat Clark, não passa disso mesmo, no seguimento de uma série apagada de filmes que vêm de "Arlington Road", passando por "Gladiator" e por uma banal interpretação em "Unbreakable" (a sua última aparição numa produção maior, já lá vão três anos...); está longe de ser um menino prodígio de Hollywood. Desenrasca-se.
O resto é o dia a dia e os seus pequenos dramas convertidos em grandes tragédias por quem se arroga o direito de julgar e punir: nós. O homem é demasiado imperfeito para a justiça. Deviam dar-lhe outro nome ou, ao menos, tirar-lhe a venda. Como Eastwood demonstra, somos péssimos exorcistas dos nossos próprios demónios, mas os outros são ainda pior.
O melhor: Clint Eastwood (repararam nele?)
Menos mal: Sean Penn
Surpreendente: Laura Linney (à espera de um grande papel)
O pior: Um Spencer Treat Clark casual q.b., mas admito que era ouro sobre azul para o papel de Silent Ray Harris, pelo que a escolha de Clint Eastwood foi muito bem feita, afinal.
AMC Gaia - 06Dez2003 21:50 (sala 14) 4,80 € (me & Lina)
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Site Oficial: "Mystic River"
Cast:
Sean Penn Jimmy Markum
Tim Robbins Dave Boyle
Kevin Bacon Sean Devine
Laurence Fishburne Whitey Powers
Marcia Gay Harden Celeste Boyle
Laura Linney Annabeth Markum
Kevin Chapman Val Savage
Tom Guiry Brendan Harris
Emmy Rossum Katie Markum
Spencer Treat Clark Silent Ray Harris
Matty Blake State Trooper
Andrew Blesser Sibling
!Aviso da praxe!
Se ainda não viu este filme, vá embora e volte depois de o ver.
Não diga que não foi alertado antes de ler esta entrada.
O bom velho Harry parece melhorar a cada ano que passa, como um Vintage. O rio místico foi uma agradável surpresa - desconfio sempre das críticas que louvam as virtudes de um trabalho em uníssono; fico com a pulga atrás da orelha. Por outro lado, um conjunto de críticas desfavoráveis funciona como um íman, para mim. Quantos mais dizem mal de um filme mais eu tenho de o ver! Depois posso juntar a minha voz à deles... Ou não (o que acontece com muita frequência!).
Gostei do desempenho de todo o cast de Mystic River. Foi um prazer ver a frieza matriarcal de uma Laura Linney cada vez melhor, um Laurence Fishburne fantástico como suporte de um Kevin Bacon muito bem apanhado para o papel, assim como o foi Tim "Shawshank Redemption" Robins. Apenas Sean Penn não se excedeu, mantendo-se colado ao trejeito de "Dead Man Walking", e o miúdo "de serviço", Spencer Treat Clark, não passa disso mesmo, no seguimento de uma série apagada de filmes que vêm de "Arlington Road", passando por "Gladiator" e por uma banal interpretação em "Unbreakable" (a sua última aparição numa produção maior, já lá vão três anos...); está longe de ser um menino prodígio de Hollywood. Desenrasca-se.
O resto é o dia a dia e os seus pequenos dramas convertidos em grandes tragédias por quem se arroga o direito de julgar e punir: nós. O homem é demasiado imperfeito para a justiça. Deviam dar-lhe outro nome ou, ao menos, tirar-lhe a venda. Como Eastwood demonstra, somos péssimos exorcistas dos nossos próprios demónios, mas os outros são ainda pior.
O melhor: Clint Eastwood (repararam nele?)
Menos mal: Sean Penn
Surpreendente: Laura Linney (à espera de um grande papel)
O pior: Um Spencer Treat Clark casual q.b., mas admito que era ouro sobre azul para o papel de Silent Ray Harris, pelo que a escolha de Clint Eastwood foi muito bem feita, afinal.
AMC Gaia - 06Dez2003 21:50 (sala 14) 4,80 € (me & Lina)